sexta-feira, 30 de julho de 2010

Nota do autor

Se eu colocasse no papel tudo o que eu escrevo na mente enquanto caminho sozinha, já teria uns cinco livros.

Dedos

Valerie entrou na sala e encontrou seu irmão.
“Val, porque suas roupas e suas mãos estão neste estado?”
O rapaz perguntou assustado e temia a resposta.
“Eu o matei.”
“Como? Por quê? Quando? Valerie Mendonça, por nosso senhor Deus, quem você matou?”
“Calma, primeiro preciso me limpar desse sangue imundo! Espere aqui.”
Falou tranquilamente e saiu resmungando alguma coisa.
Dalton encheu o copo de uísque, notou que suas mãos estavam tremulas.
_
Valerie volta depois de algum tempo. Está limpa e sorri para o irmão.
“O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ?”
“Por Deus, Dalton, porque esse berreiro?”
“Você chega coberta de sangue, dizendo que matou alguém... Quer que eu fique como?”
(A irmã ri)
“Matei o meu marido, faz... (olha o relógio) uma hora e meia.”
“Como?”
“Ah, ia ser com um tiro, mas depois que eu dei a primeira facada, me pareceu tão divertido que desisti da primeira idéia.”
Ela ri.
Como você pode rir disso? Jesus! Porque você fez isso?”
“Aquele canalha, sacana, vagabundo...
Fui dar uma volta pela cidade e resolvi ir à casa de Julian, fazia tempo que não a via. A vadia, rameira, estava na cama com o meu esposo. Isso foi há uma semana, mas eu só o matei hoje porque queria fazer uma cena.”
“Eu não acredito que você o matou!”
“Matei, matei com as próprias mãos” (Diz com orgulho)
“O que você fez?”
“Hoje no jantar, fiz com que Julian estivesse presente e depois da ceia, matei Mattew na frente dela.”
“Onde ela está agora?”
“Deve estar em algum hospital...”
“Tenho medo de perguntar, mas o que você fez com ela?
“Foi tão divertido, irmão, eu cortei seis de seus dedos e fiz ela engolir três, engoliu também a minha aliança!”
“Você é o diabo Valerie, você irá pro inferno, eu espero que no juízo final, o meu senhor seja piedoso com você”
“Faça-me o favor!”
“O que fez com o corpo?”
“Bem, errrrrr... Exatamente por isso que eu vim falar com você...”

Mattew ainda jazia na mesa do jantar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Monólogo

“... Talvez -”

“Hum, bem pensado caro Joel, se ela me procura, é porque sente a minha falta, e não me teme como eu achava que o era... Mas a nova questão é, como eu devo chamá-la para sair comigo, mas de uma forma que não demonstre que eu a desejo mais que o ar que eu respiro?”

“... Olha, eu acho que -“

“Claro, como eu não pensei nisso antes, Joel, você está me surpreendendo hoje com a sua perspicácia! Obrigado!”

“De nada...”

Joel deu os ombros e deixou a sala calado, como havia entrado.

Jantar

Na noite da reunião, com todos já sentados à mesa, suas taças parecendo nunca estarem cheias suficientemente, todos gargalhavam a qualquer balburdiar bobo.
Joel, já falando mais que o normal, puxou pelo braço, de forma delicada, a moça ao seu lado, concentrando todas as suas forças na língua para que sua fala saísse melhor que um urro de babuínos famintos, tamanha era a sua nervosidade.

“Lumara, ouça, preciso conversar-te, mas somente a ti interessa”

“Sem problemas, mas podemos aguardar um instante para que o efeito do vinho passe, assim poderei recordar do que me dirás.”

“Sem problemas...”

Os dois pararam com a bebida e depois de tempo suficiente, os dois se ausentaram da mesa, algo que passou despercebido pelos demais convidados de Joel.

“A noite está linda, não é Joel?”

“Tão linda quanto seus –“

Antes que pudesse terminar a frase que a tanto tempo sonhava em dizer, Lumara o abraçou de forma diferente e o beijou de jeito apaixonado, fazendo que o gosto do mel que vinha de sua boca, e o cheiro de rosas que exalava do seu corpo deixasse Joel atordoado e aceso estranhamente.

“Eu, eu, eu...”

A frase que ensaiara tantas vezes, e repitira de tal forma orativa, agora parecia vazia diante do sentimento tão grandioso que percorria suas veias.

“Eu te amo, eu te amo, e sinto como se pertencesse a seus olhos, suas mãos, seus domínios. Minha alma está tão presa a sua, que mal vejo modo de me afastar.”

“Mas não há motivos para isso” Disse Lumara, sorrindo.

“Eu sei que não, nunca nos toquemos, pouco nos falamos, dificilmente nos vimos, não há moti-“

Antes de completar o pensamento, a garota o beija mais uma vez.

“Não, tolinho! Não há motivos para nos afastarmos, pois te desejo e te amo de mesma maneira.”


Beijaram-se mais uma vez, e diversas vezes mais.

Auto Suficiência


“Recito-te cem monólogos se isso te satisfaz, te escrevo mil poemas, se isso te faz ficar,”

“De nada adianta, serão palavras vazias, assim como o meu coração” (ênfase no meu)

“Eu não me importo, meu amor é auto-suficiente, se permaneces, fico feliz. Mas se você for, se me abandonas, arruma um jeito de matar duas almas dentro do meu corpo”

“Mas eu não pertenço a você!”

“Mas eu pertenço a você. Nada de mim é existente sem a sua presença, sem você aqui, aqui do meu lado.”

“...”

“Me perdoe se te amo dessa forma.”

Carro

“PARE A DROGA DO CARRO!”

“PARE VOCÊ COM ESSA CHORADEIRA!”

“POR FAVOR, por favor, eu quero ir embora, para o carro, eu juro, eu vou embora, nunca mais volto, nunca mais falo contigo, sequer te verei mais, juro arrumar um jeito de fazer com que nossos caminhos nunca mais se cruzem, então por favor, pare o carro...”

Aí, quem caiu no choro foi ele.